7 Hoteis

A primeira tentativa de fazer nascer uma rede hoteleira em Gramado partiu da jovem empresa organizadora de eventos TRIBECA, uma iniciativa do ainda imberbe Maurício Cavichion.

Era o último ano do milênio, 1999, haviam duas ameaças no ar, uma delas vinda da cristandade, que pregava que de “hum mil passará e a dois mil não chegará” e a outra vinha da Microsoft, com a fake do Bug do Milênio, quando todos os softwares entrariam em pane pois haveria a mudança do 4º digito e todos os dados armazenados iriam para a cucuia. Em Gramado, nesse mundinho sem tanta reza e sem bugs de qualquer milênio, dada a necessidade de se negociar grandes volumes de diárias para eventos de grande porte, foi criado por esse escriba o Maurício Cavichion a idéia de um “Pool de Hotéis”.

Foi nesse momento que, unindo os objetivos de 2 protagonistas, a ambição de 3 hoteleiros a loucura de um gerente nefelibata, o glamour de duas senhoras , 6 empresas se reuniram em forma de uma marca:

Sete Hotéis

  1. Laghetto
  2. Laghetto Vialle
  3. Le Chateau
  4. Recanto da Serra
  5. SKY
  6. Varanda das Bromélias
  7. Villa Bella

As duas propostas desse negócio era unificar as vendas através de uma ação no interior do Estado e atender uma demanda por hospedagem do primeiro SICC – Sala Internacional do Couro e do Calçado –  que seria realizado no início do ano seguinte.

As 2 ações:

Foi traçado um mapa de promoção pelas principais cites emissoras do estado, como Passo Fundo, Santa Maria, Uruguaiana e Pelotas, ao mesmo tempo, Gerson Sorgetz, à época estreando como empreendedor após longos anos como gestor de eventos do Hotel Serrano,  organizava as compras das diárias para o SICC e naquele momento, logo na segunda iniciativa, foi percebido que alguém “havia jogado fora a água da bacia do banho, junto com a criança”.

A proposta foi bem até formatação do negócio, ocorreram discussões sobre o que poderia, o que deveria, o que se faria (que são os três verbos da ética), entraram alguns especialistas em generalidades dando palpites, com as ideias atávicas da hotelaria dos tempos dos caravançarais da Rota da Seda, não entendiam para que bater de frente com as redes e alguns ainda diziam que “era só por medo da Accor” que acabara de chegar na cidade com um Parthenon, chamado Toscana.

Protagonistas (ou nem tanto)

No desenvolvimento das reuniões, despontavam  dois grupos distintos: os sabidos e os medrosos.  

Roberto Kennedy Rodrigues, um especialista em vendas que havia trabalhado nos hotéis Serrano, Villa Bella e Serra Azul, nesta época estava consolidando sua empresas de representação para “vender” diárias do Hotel Serra Azul, do Costão do Santinho de Santa Catarina e o Resort Transamerica de Comandatuba no sul da Bahia, tentava emplacar um modelo que não convenceu.

Telma Renner, proprietária da Pousada Boutique Varanda das Bromélias, com 17 unidades habitacionais (UH), que já não existe mais e seu prédio e terreno foram vendidos para o vizinho Hotel Rita Hopner.

Jacques Burro, Um francês vindo de São Paulo que realizava seu sonho pessoal, construindo um hotel de luxo no bairro mais sofisticado da cidade, o Le Chateau, com 33 UH.

Hilário Krauspenhaar, um profissional forjado em longa pratica nos hotéis da região, que havia passado pelos hotéis Serra Azul, Laje de Pedra e Laghetto, que também estreava como empresário empírico, no Hotel Sky, com 42 UH.

Ronald Spieker, Arquiteto e Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Plinio Rafael, corretor de imóveis de sucesso, haviam recém inaugurado sua segunda unidade na cidade, o Laghetto Viale, após operarem a primeira propriedade por 10 anos, que iniciou sua operação em 1989, com 42 UH e havia sido expandido para 99 UH, ganhando mais 96 UH na nova unidade. 

Roger Baqui (naquele tempo, seu nome era escrito desta forma, aportuguesado) empresário empírico com grande experiência no comércio e com liderança explícita ao dirigir por 2 anos, o Sindicato Patronal da Hotelaria da Região, operava sua propriedade de 87 UH, o Hotel Villa Bela, um palácio estilizado, localizado em uma paisagem esplêndida, nos arredores da cidade, debruçado nas encostas do Vale do Quilombo.

Fabio Montagna, que dirigia o Hotel Recanto da Serra, um empreendimento familiar com 60 UH, localizado em um recôndito de beleza insofismável e bem próximo do centro da cidade.

Dois outros profissionais participaram de tratativas iniciais sem sucesso, por não acreditarem no produto e nos empreendedores: 

Gisele Ferreira, guia de turismo com uma curta experiência de sucesso na vizinha idade de Canela, quando operou por certo tempo a central de reservas dos pequenos hotéis e pousadas associados da Associação Comercial. 

Paulo Thomazzini, corretor de imóveis que teve alguma experiência na hotelaria, quando participou da venda  de cotas de time sharing do Hotel Casa da Montanha. 

A “rede” morreu quando na segunda ação, com as vendas correndo normalmente, um dos hoteleiros, no afã de ganhar mais, foi ao organizador e ofereceu diárias mais baratas se fossem comprada todas as que ele tinha disponíveis. Este protagonista queimou a “rede” antes de ela nascer, por falta de saber ler os três verbos da ética.

Pool

A partir daquele episódio, testemunhado por uma expert em vendas de eventos, por duas adolescentes assustadas, foi tomada a decisão de que o Pool de Hotéis seria iniciativa só da organizadora de eventos, sem a co-gestão dos hoteleiros, que continuariam a participar, porem, sem interferir com suas éticas, loucuras, glamours e medos.

Falha

A rede não vingou por culpa dos proponentes – esse escriba e o proprietário da TRIBECA – que, por serem amigos de todos, descuidaram do lado jurídico que daria poder a um protagonista apenas e os outros que acreditassem na idéia o seguiram. 

O ditado alegretense:

lado a lado, todos os bois juntos não cabem na mesma trilha”. O aprendizado foi que um boi vai na frente e a boiada vais atrás.

Porque enredar “hotéis isolados”?

Naquele momento Gramado tinha pouco mais de 5 mil leitos e era difícil alocar congressistas em um Pólo onde sábados e domingos lotavam os leitos com porto-alegrenses e paulistas classe baixa vindos de ônibus por 5 grandes operadoras… grandes para aquele momento, onde despontavam a extinta SOLETUR e a CVC, com um formato totalmente diferente da multinacional atual.

Não deu certo. Mas, mesmo assim, aquela tentativa fez nascer várias outras tentativas e a cidade tornou-se a fronteira da gestão hoteleira em múltiplos endereços.

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