A retomada em busca de um lugar ao sol

Desde março, quando a hotelaria começou a demitir em massa devido ao quase total encerramento da atividade nos três meses que se seguiram ao soar do alarme da pandemia planetária, a atividade que era responsável por mais de 50 mil empregos, foi literalmente a nocaute e viveu mais de meio ano no limbo.

Novembro começou com cara de normalidade: estão pousando mais de 40 voos diários no Aeroporto Salgado Filho, o Festival de Turismo de Gramado vai acontecer de forma real, física, presencial e os empregos estão retornando na cadeia do acolhimento.

Na hotelaria, as sequelas estão sendo amenizadas (para os que sobreviveram) por dois fenômenos: a conversão para não-hospedagem e a saída do mercado dos menos resistentes. Nas grandes cidades desapareceram alguns pequenos hotéis antigos e hotéis tradicionais foram para três nichos distintos: seniorliving, coliving e office. Alguns hotéis ainda não reabriram suas portas, com a notação mais drástica para Porto Alegre, onde 22 de seus 88 endereços ainda estão com as portas lacradas, aguardando dias melhores. Os hotéis populares, aqueles de pernoite abaixo de 30 dólares, são os que estão com menos chance de operação financeiramente saudável.

No turismo, os três Destinos Turísticos do RS, Gramado, Canela e Bento Goncalves, estão recebendo a maioria de seus visitantes oriundos de dentro do próprio estado. Como, historicamente, o turismo interno sempre foi o forte desta atividade econômica, o movimento ainda se apresenta encolhido em aproximadamente 40%, o que empata com a “bandeira pandêmica”, que limita a carga espacial de hotéis, restaurantes, atrativos e eventos.

Com a chegada do calor e do sol abaixo do paralelo 28S, as praias passam a representar um grande movimento de pessoas intra-regional: 5 milhões de mercosulenses se deslocam pelo território gaúcho em direção à costa leste gaúcha, para períodos de férias e finais de semana-prolongados. O idioma e os sotaques falados nas praias no período que vai da segunda metade de novembro até o período da páscoa, se reveza entre o “bagual” do interior gaúcho e o castelhano “de espacito” dos portenhos.

Com isso, os postos de trabalho também ganham algum fôlego, com as recontratações ocorrendo ainda de forma tímida, porem, já apresentando novas exigências em termos de qualificação, postura e flexibilidade funcional.  O Frontdesk ouviu 5 protagonistas que estão retomando, juntos, pouco mais de 500 postos de trabalho dentro do RS.

Nunca mais será como antes:

A tecnologia, os processos e a flexibilização das regras, transformaram definitivamente os indicadores de eficiência da hotelaria e isso aparece com mais ênfase na geração de emprego e nos processos gerenciais: deve surgir, após essa pandemia, um “Novo Hoteleiro”.

Algumas características desse profissional deve chamar a atenção:

  • Sem carteira assinada
  • Sem Horário fixo
  • Sem local de trabalho único
  • Com pelo menos dois contratos de trabalho e 10 funções diferentes.

E o hospede com isso?

O Hóspede, esse “deus” milenar, que tudo tinha ao tempo e à hora, do seu jeito e sem ressalvas, também rareia se não desaparecer: estará em nichos muito exclusivos, pois, terá de se adaptar às filas de espera nas recepções, aos processos, à frieza da tecnologia, aos protocolos e a ausência de seres humanos em carne-e-osso para lhe sorrir e genuflectir. Ele terá que se virar em sintonizar sua conta de dados para ouvir musica, ver esportes, noticias e filmes nos monitores que vão substituir as TVs nos quartos e terá que pagar por cada acesso, através de sua assinatura do fornecedor destes dados, tipo Spotfy, Globo Play, Netflix, Fox Sports ou Amazon Prime. Terá que marcar hora na academia e abastecer seu frigobar no Zuper.

A hotelaria, assim como o turismo, os eventos e os meios de transportes, terá que ser mais enxuta, eficiente e flexível.

A hotelaria nas nuvens

As exigências de qualificação extrapolaram:

Terceirização

Compreendida como um bypass nos processos, a delegação da responsabilidade de quase todos os serviços transformará a atividade hoteleira em uma profusão de uniformes e siglas, tudo para equacionar os custos e se adequar a uma nova realidade. A terceirização também ganha força com a flexibilizavam das leis trabalhistas.

Home office:

Boa parte das funções serão realizadas sem a presença no escritório ou no hotel, em busca de redução de custo e aumento da eficiência

Tecnologia:

IoT, IA, S&OP, SEO, serão siglas que farão o dia-a-dia dos gestores (e também algumas de suas dores de cabeça).

Substituição dos processos:

Os gerentes devem se acostumar a algumas rotinas “insuportáveis”, expressas em palavras mágicas como:

  • Enxugamento
  • Redução de nivel salarial
  • Polivalência
  • PPR
  • Readequação de nivel salarial
  • Redução de quadro
  • Múltiplas funções
  • Tempo de espera
  • Filas na recepção
  • Automação de atendimento
  • Menos serviços
  • Mais carga horária
  • Intervalos de horas e dias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.